Neste artigo, você vai saber qual é a relação entre cinema e literatura. Além disso, vai descobrir a que gênero literário pertence o roteiro cinematográfico e receber indicações de obras literárias adaptadas para o cinema. E você que gosta dos conteúdos do site Literatura!, conheça também os livros de seu autor. É só clicar aqui.
Qual a relação entre cinema e literatura?
Quando você se senta em uma confortável poltrona de cinema ou mesmo se coloca à vontade em sua casa para ver um filme de alguma plataforma de streaming, muita coisa aconteceu para levar a você entretenimento e/ ou reflexão. A gente não pensa sempre nisso, mas o filme a que assistimos é resultado de muito trabalho duro.
Mas o que a literatura tem a ver com tudo isso? Na maioria dos filmes, a literatura tem tudo a ver com isso. Sabe por quê? Porque antes de um filme começar a ser rodado, é preciso um roteiro. E esse texto é uma obra literária. Portanto, a escrita precede a imagem.
É claro que existem filmes experimentais, em que a diretora ou diretor pode optar por uma espécie de criação espontânea, com pouco planejamento prévio. Mas ainda assim, é pouco provável que ela ou ele não recorra à escrita para anotar ideias e ações. Assim, o roteiro estruturado é regra para a maioria dos filmes, principalmente os mais comerciais.
Neste ponto, vamos entrar de novo naquela discussão: arte versus entretenimento. Um roteiro pode ser uma obra de arte ou apenas um entretenimento. Consequentemente, o roteiro define que tipo de filme vai ser produzido. Portanto, cinema e literatura andam de mãos dadas e compartilham algo fundamental para a arte: o aspecto ficcional.
Leia também: O boom da literatura independente na contemporaneidade.
O roteiro cinematográfico e o gênero dramático
O roteiro de cinema pertence ao gênero dramático. Sim, textos que são escritos para serem encenados, como peças de teatro, são desse gênero. Eles apresentam cenas, falas e rubricas (orientações do roteirista ou dramaturgo). A princípio, não são feitos para a leitura dos leitores comuns, mas sim para guiar diretoras, diretores, atrizes e atores. Assim, há roteiros originais, mas também aqueles que são uma adaptação de uma obra literária.
A seguir, vamos ler um trecho do roteiro original Flores azuis, como exemplo:
CENA XXVIII. INT./ CARRO/ NOITE
Há pouco, os personagens saíram do teatro. Estão passando por uma rua movimentada, repleta de letreiros luminosos.
CELINE
Pare o carro.
PEDRO
O quê?
CELINE
Pare o carro, vamos.
PEDRO
Não acho uma boa ideia.
CELINE
(grita)
Pare!
PEDRO encosta.
CELINE
Vamos descer.
REBECA
Este lugar não me parece seguro.
CELINE
Esta noite, eu quero correr perigo.
CELINE sai, sem esperar os outros.
GRISELDA
Devemos ir atrás dela. Ela vai se perder aqui.
REBECA
O que aquela maluca pensa estar fazendo?
Saem os três do carro e vão atrás de CELINE.
[…]
CENA XXXI. INT./ BOATE/ NOITE
Diante de um pequeno palco estão GRISELDA, REBECA, CELINE e PEDRO, além dos frequentadores.
Um facho de luz cai sobre o artista no palco. Diante do microfone, um homem cuidadosamente travestido de mulher dubla a cantora mexicana Chabela Vargas: Amanecí en tus brazos.
Na boate, todos mantêm um silêncio respeitoso e emocionado diante da apresentação.
Podemos ver GRISELDA abraçada a CELINE e PEDRO abraçado a REBECA. Seus olhos estão muito atentos, admirados.
[…]
SOUZA, Warley Matias de. Flores azuis & Debie Rousseau. Joinville: Clube de Autores, 2016.
Famosas adaptações de obras literárias para o cinema
OBRA E AUTOR | ROTEIRISTA |
A escolha de Sofia, de William Styron. | Alan J. Pakula. |
A hora da estrela, de Clarice Lispector. | Suzana Amaral e Alfredo Oroz. |
Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll. | Linda Woolverton. |
A lista de Schindler, de Thomas Keneally. | Steven Zaillian. |
Laranja mecânica, de Anthony Burgess. | Stanley Kubrick. |
Macunaíma, de Mário de Andrade. | Joaquim Pedro de Andrade. |
Me chame pelo seu nome, de André Aciman. | James Ivory. |
O beijo da mulher aranha, de Manuel Puig. | Leonard Schrader. |
O curioso caso de Benjamin Button, de F. Scott Fitzgerald. | Eric Roth. |
O iluminado, de Stephen King. | Stanley Kubrick e Diane Johnson. |
O poderoso chefão, de Mario Puzo. | Mario Puzo e Francis Ford Coppola. |
O segredo de Brokeback mountain, de Annie Proulx. | Diana Ossana e Larry McMurtry. |
O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien. | Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens e Stephen Sinclair. |
O silêncio dos inocentes, de Thomas Harris. | Ted Tally. |
Vidas secas, de Graciliano Ramos. | Nelson Pereira dos Santos. |
Agora que você já sabe qual é a relação entre cinema e literatura, que tal ler um livro? Desta vez, vou te indicar o minirromance Ele & eles. Mas essa obra ainda não foi adaptada para o cinema.
Leia também este livro: Pérolas aos porcos.
Referências
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.
GOULART, Audemaro Taranto; SILVA, Oscar Vieira da. Introdução ao estudo da literatura. Belo Horizonte: Lê, 1994.
Este artigo foi escrito por: Warley Matias de Souza.