Neste artigo, você vai conhecer o Arcadismo, descobrir onde surgiu esse estilo de época e quais são as suas principais características. Também vai saber quais são os principais autores do Arcadismo no Brasil. E você que gosta dos conteúdos do site Literatura!, conheça também os livros de seu autor. É só clicar aqui.
Onde surgiu e quais são as características do Arcadismo?
O Arcadismo nasceu na Europa do século XVIII, como influência do Iluminismo e com a missão de neutralizar o estilo barroco. O objetivo dos poetas árcades era fazer um resgate dos temas clássicos e renascentistas. Assim, esse estilo de época também é conhecido pelo nome de Neoclassicismo.
O Arcadismo enaltece os espaços bucólicos, isto é, a natureza em sua beleza e tranquilidade. Por isso, uma de suas características é apresentar elementos que valorizem o campo em detrimento da cidade, é o fugere urbem ou “fuga da cidade”. Nessa perspectiva, também apresenta o locus amoenus ou “lugar ameno”.
O poeta árcade valoriza a simplicidade, é contrário aos excessos barrocos. Portanto, expressa a aurea mediocritas ou “mediocridade áurea”. Do mesmo modo, defende o inutilia truncat ou “cortar o inútil”. Para que ter mais do que precisamos? O Arcadismo idealiza o amor e a mulher amada, verdadeiros tesouros para o poeta.
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A estética árcade nos inspira a aproveitar o momento, é o carpe diem. Porém, devemos ser equilibrados. Aproveitar o momento é contemplar a natureza, sem cometer excessos. Há também o pastoralismo, identificado na poesia árcade pela presença de pastores, pastoras e ovelhas em ambiente obviamente campestre.
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Quais são as características do Arcadismo no Brasil?
CARACTERÍSTICA | DETALHES |
Fugere urbem | Há uma valorização do ambiente campestre. Portanto, um estímulo a “fugir da cidade”. |
Locus amoenus | O eu lírico enaltece a calma e a simplicidade do campo, isto é, valoriza o “lugar ameno” |
Aurea mediocritas | A poesia árcade defende a simplicidade, é contrária aos excessos. Portanto, como dizemos hoje, “o menos é mais”, daí a “mediocridade áurea”. |
Inutilia truncat | Se os árcades condenam os excessos, estimulam os leitores a “cortar o inútil”. |
Carpe diem | “Aproveitar o momento” e contemplar a paisagem são coisas que a poesia árcade estimula. Porém, é preciso aproveitar com moderação. |
Idealização amorosa | O amor é idealizado, portanto não concretizado, e perfeito na teoria. |
Idealização da mulher | A mulher é considerada bela, virgem e moralmente superior. |
Pastoralismo | O poeta se diz pastor de ovelhas, chama sua amada de pastora, e vivem em um ambiente bucólico. |
Resgate de temas clássicos e renascentistas | Referências greco-latinas, como, por exemplo, a menção a Cupido, o deus do amor. |
Elementos políticos | O Arcadismo chega ao Brasil durante um período histórico marcado pela Inconfidência Mineira, de forma que questões políticas desse período acabam aparecendo em alguns versos da época. |
Uso de pseudônimos | No Brasil, os poetas tinham pseudônimos, de forma a valorizar a cultura e não a própria individualidade. O pseudônimo de Tomás Antônio Gonzaga era Dirceu. |
Traços românticos | Os dois poemas épicos do nosso Arcadismo, ou seja, O Uraguai e Caramuru, podem ser considerados pré-românticos, pois apresentam nacionalismo, além do protagonismo indígena. |
A obra Marília de Dirceu
Marília de Dirceu é a principal obra do Arcadismo brasileiro. Ela é composta por liras que expressam emoções e sentimentos do eu lírico, ou seja, Dirceu, o qual enaltece sua amada. Na primeira parte do livro, é possível observar todas as características do Arcadismo europeu.
Porém, a segunda parte foi escrita quando Tomás Antônio Gonzaga estava preso, acusado de traição, ou seja, de envolvimento no que hoje chamamos de Inconfidência Mineira. Por esse motivo, é possível observar um tom melancólico e, em alguns momentos, até sombrio, não condizentes com a estética árcade.
Para exemplificar, vamos transcrever a seguir duas liras, uma da primeira, e outra da segunda parte, dessa obra que é o primeiro best-seller da literatura brasileira. Aliás, é preciso dizer que a linguagem utilizada era simples e clara para a época. Entretanto, leitoras e leitores atuais podem sentir certa dificuldade na leitura da obra.
Na LIRA III, da primeira parte, o eu lírico enaltece a beleza de Marília:
De amar, minha Marília, a formosura Não se podem livrar humanos peitos. Adoram os Heróis; e os mesmos brutos Aos grilhões de Cupido estão sujeitos. Quem, Marília, despreza uma beleza A luz da razão precisa; E se tem discurso, pisa A lei, que lhe ditou a Natureza. Cupido entrou no Céu. O grande Jove Uma vez se mudou em chuva de ouro; Outras vezes tomou as várias formas De General de Tebas, velha e touro. O próprio Deus da Guerra, desumano, Não viveu de amor ileso; Quis a Vênus, e foi preso Na rede, que lhe armou o Deus Vulcano. Mas sendo Amor igual para os viventes, Tem mais desculpa, ou menos esta chama: Amar formosos rostos acredita, Amar os feios de algum modo infama. Quem lê que Jove amou, não lê nem topa, Que amou vulgar donzela: Lê que amou a Dánae bela, Encontra que roubou a linda Europa. Se amar uma beleza se desculpa Em quem ao próprio Céu e terra move, Qual é a minha glória, pois igualo, Ou excedo no amor ao mesmo Jove? Amou o Pai dos Deuses Soberano Um semblante peregrino; Eu adoro o teu divino, O teu divino rosto, e sou humano.
Já na LIRA V, da segunda parte, o eu lírico fala de seu sofrimento, já que está na prisão. Mas ele resiste, pois tem esperança de reencontrar Marília:
Os mares, minha bela, não se movem; O brando Norte assopra, nem diviso Uma nuvem sequer na Esfera toda; O destro Nauta aqui não é preciso; Eu só conduzo a nau, eu só modero Do seu governo a roda. Mas ah! que o Sul carrega, o mar se empola, Rasga-se a vela, o mastaréu se parte! Qualquer varão prudente aqui já teme: Não tenho a necessária força e arte. Corra o sábio Piloto, corra e venha Reger o duro leme. Como sucede à nau no mar, sucede Aos homens na ventura e na desgraça; Basta ao feliz não ter total demência; Mas quem de venturoso a triste passa, Deve entregar o leme do discurso Nas mãos da sã prudência. Todo o Céu se cobriu, os raios chovem; E esta alma, em tanta pena consternada, Nem sabe aonde possa achar conforto. Ah! não, não tardes, vem, Marília amada, Toma o leme da nau, mareia o pano, Vai-a salvar no porto. Mas ouço já de Amor as sábias vozes: Ele me diz que sofra, se não, morro; E perco então, se morro, uns doces laços. Não quero já, Marília, mais socorro; Oh! ditoso sofrer, que lucrar pode A glória dos teus braços!
Autores do Arcadismo brasileiro e suas principais obras
- Tomás Antônio Gonzaga: Marília de Dirceu e Cartas chilenas.
- Silva Alvarenga: Glaura.
- Alvarenga Peixoto: Canto genetlíaco.
- José Basílio da Gama: O Uraguai.
- José de Santa Rita Durão: Caramuru.
- Cláudio Manuel da Costa: Obras poéticas de Glauceste Satúrnio.
Principais autores do Arcadismo europeu
- José María Vaca de Guzmán — espanhol.
- Manuel Maria Barbosa du Bocage — português.
- Vicenzo Monti — italiano.
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Leia também este livro: Arte, literatura e política.
Referências
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.
GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. Porto Alegre: L&PM, 2007.
Este artigo foi escrito por: Warley Matias de Souza.