O Barroco brasileiro e seus principais autores

O livro Boca do inferno é um romance histórico sobre a vida de Gregório de Matos.
O livro Boca do inferno, publicado pela Companhia das Letras, é um romance histórico sobre a vida de Gregório de Matos.

Neste artigo, você vai conhecer o Barroco brasileiro e seus principais autores. Além disso, vai descobrir onde surgiu esse estilo de época e quais são as suas principais características. E você que gosta dos conteúdos do site Literatura!, conheça também os livros de seu autor. É só clicar aqui.

Onde surgiu e quais são as características do Barroco?

O Barroco é um estilo de época surgido na Itália, no final do século XVI, em um contexto marcado por conflitos religiosos. Afinal, a Europa assistia ao crescimento do Protestantismo, particularmente do luteranismo e do calvinismo. Assim, para não perder mais fiéis, a Igreja lançou a Contrarreforma Católica.

Por isso, a influência religiosa está tão presente nas obras dos autores barrocos. No entanto, talvez como reação natural ao conservadorismo religioso, as pessoas dessa época também estavam muito presas aos prazeres carnais. E, consequentemente, também precisavam conviver com a culpa.

Esse conflito existencial é o que torna o Barroco um estilo de época tão interessante. Como reflexo do tempo em que viviam, os artistas mostravam, em suas obras, ideias ou visões opostas. Então, valorizavam a Antiguidade e a Idade Média, a fé e a razão, o sagrado e o profano.

Na tela A incredulidade de São Tomé, do pintor barroco e italiano Caravaggio, é possível observar o jogo de luz e sombra.

Os pintores barrocos trabalhavam em suas telas com luzes e sombras. Essa ideia de claro e escuro também está presente na poesia, com menções ao dia e à noite. Essa união de opostos era chamada de fusionismo. Os artistas barrocos amavam o contraste. Por isso, a poesia apresenta antíteses e paradoxos.

Além de apontarem todo tipo de oposição em suas obras, os poetas também tinham fascinação pela aurora e pelo crepúsculo, já que eram períodos de transição entre dia e noite. Quer mais características? Pois bem, o pessimismo! E também a obsessão pela miséria, dor, crueldade e podridão, que dão o aspecto de feísmo à obra.

Para refletir a complexidade de seu tempo, os poetas recorriam a uma linguagem rebuscada, visual, que chegava mesmo a ser brega de tão exagerada. Daí, o uso de hipérboles. As poesias também falavam da rápida passagem do tempo, da fragilidade da existência, das contradições amorosas.

Na elaboração da linguagem, os poetas utilizavam hipérbatos, além de jogo de palavras (conhecido como “cultismo”), em que o poeta utilizava sinônimos, antônimos ou mesmo trocadilhos. O cultismo era chamado também de “gongorismo”. Já o conceptismo (valorização de ideias, com comparações, metáforas e analogias) era também chamado de “quevedismo”.

Ah, os poetas gostavam de cantar a morte. Mas não como os românticos que viriam depois. Afinal, os românticos pareciam desejar a morte. Já o artista barroco mostrava a morte para se lembrar de aproveitar a vida, era o carpe diem.

Leia também: O Arcadismo e a famosa obra Marília de Dirceu.

Quais são os principais autores do Barroco brasileiro?

No Brasil, os dois principais escritores barrocos são o poeta baiano Gregório de Matos e o padre Vieira, um português residente no Brasil. Gregório de Matos é autor de poesia lírica, sacra e satírica. Por sua poesia satírica, ele ficou conhecido como Boca do Inferno, já que criticava todos os poderosos de sua época.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

A seguir, vamos ler um soneto de Gregório de Matos:

O alegre do dia entristecido,
O silêncio da noite perturbado
O resplendor do sol todo eclipsado,
E o luzente da lua desmentido!

Rompa todo o criado em um gemido,
Que é de ti mundo? onde tens parado?
Se tudo neste instante está acabado,
Tanto importa o não ser, como haver sido.

Soa a trombeta da maior altura
A que a vivos, e mortos traz o aviso
Da desventura de uns, doutros ventura.

Acabe o mundo, porque é já preciso,
Erga-se o morto, deixe a sepultura,
Porque é chegado o dia do juízo.

MATOS, Gregório de. Ao dia do juízo. In: Antologia poética. Seleção de Walmir Ayala. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997.

Nesse poema sacro, o eu lírico diz que, no juízo final, o alegre do dia se torna entristecido, o silêncio da noite é perturbado, o brilho do sol é eclipsado e o luzente da lua é desmentido, ou seja, se mostra falso. Tudo é destruído em um instante. Então, não existir ou ter existido não faz a mínima diferença.

O dia do juízo é a infelicidade de uns e a felicidade de outros. Ou porque, para uns, a morte é a eternidade, e, para outros, o fim. Ou porque, para uns, é o Paraíso, e, para outros, o inferno. No mais, o poema apresenta estas antíteses:

  • alegre/ entristecido;
  • dia/ noite;
  • sol/ lua;
  • não ser/ haver sido;
  • vivos/ mortos;
  • desventura/ ventura.

Já Antônio Vieira é conhecido pelos seus engenhosos sermões, repletos de comparações, em um trabalho cultista e conceptista. É o que podemos ver no trecho do Sermão do Mandato, de 1670:

Este é aquele texto saudoso e suavíssimo, este é aquele mistério, ou enigma grande do amor tantas vezes repetido nesta hora, tantas vezes e por tantos modos encarecido, tantas vezes e tão sutilmente interpretado, mas nunca assaz entendido. Diz o evangelista S. João, que se porte Cristo, e que nos ama. Que se porte: Ut transeat ex hoc mundo; que nos ama: Infinem dilexit eos. Mas se nos ama, como se porte? Se nos ama, como se ausenta de nós? Mais diz o evangelista. Não só diz que nos ama Cristo, e que se porte, não só diz que nos ama e que se ausenta de nós, senão que nesta mesma hora em que se partiu, nesta mesma hora em que se ausentou, havendo-nos amado sempre tanto, então, ou agora, nos amou mais: Sciens quia venit hora ejus, ut transeat ex hoc mundo, cum dilexisset suos, infinem dilexit eos.

[…]

VIEIRA, Padre Antônio. Sermões. Acesso em: 23 jan. 2023.

Assim, ele faz a introdução de seu longo sermão com a defesa de uma ideia paradoxal, ou seja, que Cristo nos amou mais quando nos deixou.

Por fim, é preciso mencionar também a obra Prosopopeia, de 1601, considerada pela crítica como sendo a primeira obra de caráter barroco no Brasil. No entanto, seu autor, Bento Teixeira, não é tão valorizado como Gregório de Matos e Vieira.

Principais autores do Barroco europeu

  • António José da Silva — português.
  • Francisco de Quevedo — espanhol.
  • Jerónimo Baía — português.
  • Luis de Góngora — espanhol.
  • Soror Mariana Alcoforado — portuguesa.
  • Soror Violante do Céu — portuguesa.

Então, que tal ler o livro Somos bruxas e me dizer se ele tem algo de neobarroco?

Leia também este livro: Ted Gray.

Referência

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.

Este artigo foi escrito por: Warley Matias de Souza.