Neste artigo, você vai saber qual é a diferença entre miniconto, microconto e nanoconto. Além disso, vai ver exemplos desses gêneros textuais. E você que gosta dos conteúdos do site Literatura!, conheça também os livros de seu autor. É só clicar aqui.
Qual é a diferença entre miniconto, microconto e nanoconto?
Por serem gêneros novos, ainda não há um amplo interesse da comunidade acadêmica em estudar o miniconto, o microconto e o nanoconto. Portanto, a definição desses gêneros de texto ainda está em processo. No entanto, pela nomenclatura, fica claro que um miniconto, um microconto e um nanoconto são menores do que o conto. A dificuldade, no momento, é determinar o quanto.
Para começo de conversa, já podemos considerar as palavras “miniconto” e “microconto” como sinônimas. Afinal, os prefixos “mini-” e “micro-” trazem um ideia semelhante, já que se referem a algo pequeno. Em seguida, é correto afirmar que o nanoconto é um texto menor do que o miniconto (ou microconto). Isso porque o prefixo “nano-” está relacionado a algo muito pequeno.
Assim, discordamos do final desta definição citada por Matheus Felipe Xavier Bueno: “Minicontos são contos extremamente curtos de uma página, um parágrafo […] ou até mesmo uma única frase”. Então, propomos que um miniconto ou microconto é um conto curto, de uma página ou mesmo um parágrafo. Mas nos parece coerente dizer que o nanoconto é composto por apenas uma frase.
Como já mencionamos, esses conceitos estão em processo de construção. Não há, portanto, consenso no assunto. Assim, o mesmo autor afirma:
Ainda que tenhamos apresentado uma breve definição que, por hora, parece-nos satisfatória, é importante esclarecermos que o miniconto não é um gênero fácil de ser caracterizado. É verdade que, nos últimos anos, mais estudos surgiram com o objetivo de analisar a história e as caraterísticas do miniconto, mas conceitos movediços dificultavam a elaboração de definições categóricas para o gênero.
Para você perceber como ainda não há consenso na definição desses gêneros, veja o que dizem as pesquisadoras Jurene Veloso dos Santos Oliveira e Simone Bueno Borges da Silva:
Dentro do gênero miniconto, em virtude dos ambientes virtuais e do acesso a todo tipo de construção literária e formas de comunicação que fazem surgir novos gêneros, aparecem, então, o que Rocha (2013) chama de “microliteratura”. Nesta, há, pois, os microcontos (possuem até 150 toques, incluindo letras, espaços e pontuação), minicontos (contêm 300 palavras ou 600 caracteres), nanocontos (até 50 letras, sem espaços e acentos), twitcontos (até 140 caracteres).
Portanto, ressaltamos a ideia de que é coerente defender que um miniconto (ou microconto) possui um parágrafo ou uma página (porém, há livros de diversos tamanhos). Já o nanoconto é uma narrativa com apenas uma frase. E esperamos que o tempo consolide alguma definição acerca desses gêneros textuais.
Leia também: Características dos gêneros romance, novela, conto e minirromance.
Como surgiu o miniconto, o microconto e o nanoconto?
Não é possível precisar quando exatamente surgiu o miniconto e o nanoconto. O que se sabe é que esses gêneros de texto começaram a receber atenção nos anos 1960. E, com o advento da internet, a produção desses gêneros de texto se ampliou, de forma a ficar em evidência, principalmente, o nanoconto.
Exemplos de miniconto, microconto e nanoconto
- Exemplo 1
Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá.
Esse nanoconto se chama O dinossauro. Seu autor é o escritor guatemalteco Augusto Monterroso.
- Exemplo 2
O vendedor de picolé caminhava sob o sol da tarde tropical, andar firme de macho sem sexo, corpo magro e moreno. Protegia o rosto com o boné branco encardido e o sorriso frágil-sedutor.
Um velho empurrava uma bicicleta, sua jovem esposa montada na garupa, sorridente ela, imbecilizada ela, feliz ela.
— Quero picolé! — falou a jovem esposa e pulou da garupa, correu atrás do vendedor frágil-sedutor.
Era o início de uma história de amor e ódio.
Esse miniconto ou microconto se chama História de amor e ódio. E está no meu livro O gato angorá.
- Exemplo 3
Dois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo.
Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia olhar lá fora.
Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede úmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz. Com inveja, perguntava o que acontecia.
Deslumbrado, anunciava o primeiro:
— Um cachorro ergue a perninha no poste.
Mais tarde:
— Uma menina de vestido branco pulando corda.
Ou ainda:
— Agora é um enterro de luxo.
Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela.
Não dormiu, antegozando a manhã. Bem desconfiava que o outro não revelava tudo.
Cochilou um instante — era dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço: entre os muros em ruína, ali no beco, um monte de lixo.
Esse miniconto ou microconto se chama Dois velhinhos. Seu autor é o escritor brasileiro Dalton Trevisan.
Então, você quer conhecer o meu livro de minicontos mais recente? É só ler a obra Antes do ponto final.
Leia também este livro: O gato angorá.
Referências
BUENO, Matheus Felipe Xavier. Minicontos e minicontos digitais: potencialidades dos gêneros para o desenvolvimento dos letramentos e multiletramentos. Campinas: Unicamp/ Publicações IEL, 2021.
MONTERROSO, Augusto. Obras completas e outros contos. Tradução de Lucas Lazzaretti. São Paulo: Mundaréu, 2022.
OLIVEIRA, Jurene Veloso dos Santos; SILVA, Simone Bueno Borges da. Os gêneros textuais digitais como estratégias pedagógicas no ensino de língua portuguesa na perspectiva dos (multi)letramentos e dos multiletramentos. Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 59, n. 3, set./ dez. 2020.
ROCHA, Amanda Aline Carolinne de Oliveira Marques. Microconto — novo gênero textual? 2013. Monografia (Especialista em Leitura e Produção de Texto) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2013.
SOUZA, Warley Matias de. O gato angorá. Joinville: Clube de Autores, 2015.
TREVISAN, Dalton. Dois velhinhos. In: TREVISAN, Dalton. Mistérios de Curitiba. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996.
Este artigo foi escrito por: Warley Matias de Souza.