Arte e entretenimento. Qual a diferença?

A arte mostra a realidade.
A arte mostra a realidade.

Neste artigo, você vai saber qual é a diferença entre arte e entretenimento. Além disso, vai conhecer alguns exemplos de romances de entretenimento e de obras literárias artísticas. E você que gosta dos conteúdos do site Literatura!, conheça também os livros de seu autor. É só clicar aqui.

O que é arte?

Não existe uma resposta definitiva para essa pergunta. No entanto, aqui vamos defender a arte como a instância do incômodo. A arte não é agradável, no sentido alienante. Ela não nos tira da realidade. Pelo contrário, ela nos mostra a realidade, por mais desagradável que ela seja.

Muita gente fica em dúvida, portanto, se deve considerar determinada obra como arte. Para essas pessoas, recomendamos que busquem identificar nessa obra estes quatro elementos:

  1. Subjetividade: a visão particular do autor sobre a realidade.
  2. Plurissignificação: a possibilidade de mais de um significado ou interpretação.
  3. Ficção: a transformação da realidade, o que está associado à subjetividade autoral.
  4. Função estética: ausência de utilidade prática.

Então, vamos analisar duas obras de arte:

1. Dom Casmurro, de Machado de Assis (1839-1908)

Dom Casmurro, de Machado de Assis — Panda Books.

Esse romance traz uma visão particular do autor Machado de Assis acerca da sociedade burguesa do século XIX. Assim, se outro autor ou autora se apropriassem dos personagens do livro e relatassem os mesmos fatos presentes na obra de Machado de Assis, pode ter certeza de que escreveriam obras diferentes, mesmo que semelhantes.

Em Dom Casmurro, há a dúvida sobre a traição da personagem Capitu, o que gera mais de uma interpretação, de forma que o romance possui plurissignificação. Essa característica está presente também em outros elementos da obra. Nas metáforas e ironias, por exemplo.

Apesar de Machado de Assis escrever sobre a burguesia carioca do século XIX e trazer elementos da época, o romance é uma ficção, isto é, o autor realiza uma transformação da realidade ao narrar essa realidade a partir de sua subjetividade, ou seja, de sua perspectiva individual.

E, por fim, o mais importante: a função estética. Para que serve Dom Casmurro? A dificuldade em responder a essa pergunta de forma direta e imediata demonstra a não utilidade da obra, já que ela pode provocar variados pensamentos ou emoções em leitores e leitoras, que não vão, necessariamente, realizar algo a partir de sua leitura.

2. Dante e Virgílio no inferno, de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)

A pintura de Bouguereau recria o inferno de Dante.

Da mesma forma que fizemos com a obra literária e artística de Machado de Assis, vamos buscar, na tela de Bouguereau, estes quatro elementos:

  1. Subjetividade: a visão particular do autor sobre o inferno de Dante.
  2. Plurissignificação: a obra está sujeita a interpretações; uma delas é ver violência e dor entre os dois homens nus; outra, desejo e prazer.
  3. Ficção: a obra é inspirada em outra ficção, isto é, A divina comédia, de Dante Alighieri (1265-1321).
  4. Função estética: a obra não possui utilidade prática. Afinal, para que ela serve?

Conheça o romance: Ted Gray.

O que é entretenimento?

Uma vez que já entendemos o que é arte, fica mais fácil saber o que é entretenimento. Assim, uma obra de entretenimento pode até possuir subjetividade, plurissignificação e ficção. No entanto, não tem o essencial da arte, ou seja, a função estética. Isso porque uma obra de entretenimento tem uma função utilitária bem específica. Que função é essa? Entreter!

Para ficar claro, veja o filme Anticristo, de Lars von Trier. Logo você vai perceber que ele não tem nada de entretenimento, pois traz uma narrativa pesada, densa, lenta. Aqueles menos críticos, logo ficam com sono. Mas se apresentarmos a eles o Parque dos dinossauros, de Steven Spielberg, ou um filme de super-heróis, “a diversão é garantida”, pois a função de entreter é gritante.

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Isso não quer dizer que obras de entretenimento não possam ter elementos críticos ou alguma reflexão, desde que não seja muito profunda e os elementos para entreter sobressaiam. Com o tempo, porém, o caráter de entretenimento (sempre perecível) pode ficar em segundo plano, e os elementos artísticos, se houver, se colocam em evidência.

Beauty, filme de Rino Stefano Tagliafierro.

Exemplos de romances de entretenimento

  • O código Da Vinci, de Dan Brown.
  • Carrie, a estranha, de Stephen King.
  • As crônicas de gelo e fogo, de George R. R. Martin.
  • O outro lado da meia-noite, de Sidney Sheldon.
  • Vermelho, branco e sangue azul, de Casey McQuiston.
  • Cinquenta tons de cinza, de E. L. James.
  • Harry Potter, de J. K. Rowling.
  • Percy Jackson, de Rick Riordan.

Exemplos de obras literárias artísticas

  • Quincas Borba, de Machado de Assis.
  • 1984, de George Orwell.
  • A teus pés, de Ana Cristina Cesar.
  • Admirável mundo novo, de Aldous Huxley.
  • Ulysses, de James Joyce.
  • Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus.
  • A hora da estrela, de Clarice Lispector.
  • O quarto de Giovanni, de James Baldwin.

Então, que tal ler o romance Somos bruxas e me dizer se ele é uma obra artística ou de entretenimento?

Leia também este livro: Arte, literatura e política.

Referências

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. São Paulo: Moderna, 2005.

ADORNO, Theodor W. Teoria estética. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2006.

OSBORNE, Harold. Estética e teoria da arte: uma introdução histórica. Tradução de Octavio Mendes Cajado. 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1978.

Este artigo foi escrito por: Warley Matias de Souza.