Neste artigo, você vai entender o que é a literatura independente e suas características. Também vai descobrir como a crítica vem tratando esse tipo de literatura na contemporaneidade. E você que gosta dos conteúdos do site Literatura!, conheça também os livros de seu autor. É só clicar aqui.
O que é literatura independente?
A literatura independente está relacionada a obras que são publicadas de forma independente pelos seus autores e autoras. Isso quer dizer que eles não contam com o suporte gratuito de uma editora, responsável pelos custos de publicação e pela venda das obras. Assim, os custos da publicação ficam por conta desses autores e autoras. Mas quais são esses custos?
Antes de o livro ficar pronto, autoras e autores independentes precisam providenciar a diagramação do livro, a revisão, a capa, o ISBN, a ficha catalográfica e uma possível conversão para livros digitais. Após tudo pronto, eles então publicam suas obras a partir de uma plataforma de autopublicação gratuita, como o famoso Clube de Autores.
Outra opção é contratar uma editora para realizar todo esse trabalho, mas sem o compromisso de comercializar a obra. Nesse caso, o autor ou autora vai receber em casa os exemplares contratados e então precisa “se virar” para vender os livros. Esse problema não ocorre em uma plataforma de autopublicação, já que o livro é impresso por demanda, ou seja, quando é efetivamente comprado por um leitor ou leitora.
Com o advento da internet, dos livros digitais e das plataformas de autopublicação, é possível afirmar que houve um boom da literatura independente. Afinal, isso permitiu que autores e autoras não dependessem mais de uma editora para publicar suas obras. O resultado foi a publicação de diversas obras literárias.
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Características da literatura independente
Os livros da literatura independente não possuem características estruturais ou de estilo específicas. O que os difere daqueles publicados em parceria com uma editora, é a maior liberdade do autor. Essa liberdade está não só na escolha dos elementos físicos do livro, mas principalmente na escolha do conteúdo publicado.
Afinal, como se sabe, algumas editoras realizam interferências, com o devido consentimento, na obra original do autor ou da autora. Essas interferências vão desde pedidos de reescrita de parágrafos ou capítulos a acréscimo e exclusão de trechos. E os motivos são variados.
A editora pode achar que aquilo que está escrito não é muito comercial, ou ofensivo e pode desagradar aos leitores. E pode inclusive não compreender a profundidade de certos trechos e implicar com eles. Mas, muitas vezes, nem se chega a isso, pois, na primeira leitura avaliativa, os editores decidem se aquele livro deve ou não ser publicado por eles.
Nesse sentido, a literatura independente dá a autoras e autores total liberdade criativa. Assim, eles podem publicar obras que certas editoras, por motivos vários, jamais publicariam. É, portanto, uma forma mais adequada para obras mais artísticas e menos comerciais. Isso não quer dizer que obras de entretenimento não possam ser independentes.
Mas, nesse caso, o autor ou autora também precisa ter um tino comercial, já que seu principal objetivo é vender bastante e ganhar muito dinheiro. Os autores de obras críticas também querem ser lidos, claro, mas eles sabem que esse tipo de obra tem um tempo diferente do produto essencialmente comercial.
O fato é que, no meio desses inúmeros livros independentes, há obras não muito boas, com um conteúdo e diagramação que deixam a desejar. Mas também há preciosidades. O problema é que a maioria dos leitores e leitoras ainda não alcançou sua independência intelectual e parece buscar o aval de uma editora antes de escolher a obra que vai ler. Escolher? Não sei se é a palavra adequada nesse caso.
Literatura independente e autopublicação
As plataformas de autopublicação, de certa forma, democratizam a publicação de um livro. Afinal, elas permitem que qualquer escritor publique sua obra. Não é mais como no passado, em que ele dependia do aval de uma editora ou precisava ter dinheiro sobrando para pagar uma publicação, que, na maioria das vezes, não gerava retorno financeiro.
Outra característica desse processo de publicação é que o livro fica vivo, já que autoras e autores podem, a qualquer momento, realizar correções ou alterações nas obras já publicadas. Isso porque o livro é impresso apenas quando é comprado, o que não acontece com a publicação em editoras, que imprimem um certo número de exemplares.
Nesse caso, se o autor quiser fazer alterações, ele precisa esperar a publicação de uma nova edição. Já na autopublicação, uma mesma edição pode apresentar versões diferentes. Essa característica é algo único nesse processo de publicação, algo realmente novo, e não sabemos ainda quais as implicações disso em uma futura análise dessas obras.
O que diz a crítica acadêmica sobre a literatura independente contemporânea?
A literatura independente não é algo novo. No passado, alguns autores custearam a publicação dos próprios livros. Inclusive autores que, mais tarde, foram valorizados pela crítica. O que é novo é a autopublicação. De qualquer forma, a crítica acadêmica parece estar ignorando esse fenômeno literário da contemporaneidade.
A omissão desse tipo de crítica é compreensível. Afinal, a maioria de pesquisadoras e pesquisadores acha mais conveniente estudar autoras e autores já consagrados ou que estão em evidência no momento. É menos arriscado do que analisar obras de um autor desconhecido, e menos trabalhoso também.
Selecionar as obras que merecem análise em meio a centenas de obras independentes e inéditas não é trabalho fácil. Exige tempo, disposição e um tipo de pesquisador bastante específico. A maioria dos acadêmicos está interessada em seus títulos ou aumentar seu currículo. Inovar no meio acadêmico é coisa para românticos, há muito tempo ridicularizados.
O que diz a crítica midiática sobre a literatura independente contemporânea?
A crítica não acadêmica, ou seja, aquela de revistas e jornais conhecidos, faz silêncio sobre a literatura independente contemporânea. Isso porque esse tipo de crítica está vinculado a veículos de comunicação que têm como principal objetivo o lucro. Portanto, é mais atrativo falar de livros publicados por editoras conhecidas ou já consagrados.
Agora que você já sabe o que é literatura independente, vou te indicar três obras independentes: Pérolas aos porcos, Fogo nas trevas e Ted Gray. Espero que você esteja disposto(a) a analisar esses livros e tirar suas próprias conclusões.
Este artigo foi escrito por: Warley Matias de Souza.