O gênero lírico está repleto de plurissignificação.
O gênero lírico está repleto de plurissignificação.

Neste artigo, você vai saber quais são os gêneros literários e as características do gênero lírico. Além disso, vai encontrar uma lista de livros pertencentes a esse gênero literário. E você que gosta dos conteúdos do site Literatura!, conheça também os livros de seu autor. É só clicar aqui.

Quais são os gêneros literários?

Leia também: Gêneros literários: características do gênero narrativo.

Características do gênero lírico

Fazem parte do gênero lírico as poesias e as letras de música. Assim, elas podem apresentar estes elementos: estrofe (cada uma das divisões do texto lírico), verso (cada linha de uma estrofe) e rima (correspondência sonora entre palavras pertencentes a diferentes versos).

Tipos de estrofe

  • Um verso (monóstico).
  • Dois versos (dístico).
  • Três versos (terceto).
  • Quatro versos (quadra ou quarteto).
  • Cinco versos (quinteto ou quintilha).
  • Seis versos (sexteto ou sextilha).
  • Sete versos (sétima ou septilha).
  • Oito versos (oitava).
  • Nove versos (novena ou nona).
  • Dez versos (décima).

Tipos de versos

  • Versos regulares (com metrificação e com rimas).
  • Versos brancos (com metrificação e sem rimas).
  • Versos livres (sem metrificação e sem rimas).

Tipos de verso regular

  • Verso de uma sílaba (monossílabo).
  • Verso de duas sílabas (dissílabo).
  • Verso de três sílabas (trissílabo).
  • Verso de quatro sílabas (tetrassílabo).
  • Verso de cinco sílabas (pentassílabo ou redondilha menor).
  • Verso de seis sílabas (hexassílabo).
  • Verso de sete sílabas (heptassílabo ou redondilha maior).
  • Verso de oito sílabas (octossílabo).
  • Verso de nove sílabas (eneassílabo).
  • Verso de dez sílabas (decassílabo).
  • Verso de onze sílabas (endecassílabo).
  • Verso de doze sílabas (alexandrino).

Como contar as sílabas de um verso?

Ao separar as sílabas poéticas, contamos até a última sílaba tônica. Então, vejamos esta estrofe do poema A um velho, da escritora parnasiana Francisca Júlia:

Por suas próprias mãos armado cavaleiro, 
Na cruzada em que entrou, com fé e mão segura, 
Fez um cerco tenaz ao redor do Dinheiro, 
E o colheu, a cuidar que colhia a Ventura.

Agora, vamos fazer a escansão:

Por/ su/as/ pró/prias/ mãos/ ar/ma/do/ ca/va/lei/ro, 
Na/ cru/za/da em/ que en/trou,/ com/ fé/ e/ mão/ se/gu/ra, 
Fez/ um/ cer/co/ te/naz/ ao/ re/dor/ do/ Di/nhei/ro, 
E o/ co/lheu,/ a/ cui/dar/ que/ co/lhia/ a/ Ven/tu/ra.

Essa estrofe possui versos alexandrinos, ou seja, com doze sílabas poéticas. A última palavra de cada verso é uma paroxítona. Portanto, contamos até a penúltima sílaba, que é a tônica.

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Além disso, quando a última sílaba de uma palavra é átona e terminada em vogal, ela se une à primeira sílaba da próxima palavra, se esta também for átona e começar com vogal. É o que ocorre nas marcações em vermelho abaixo:

Por/ su/as/ pró/prias/ mãos/ ar/ma/do/ ca/va/lei/ro, 
Na/ cru/za/da em/ que en/trou,/ com/ fé/ e/ mão/ se/gu/ra, 
Fez/ um/ cer/co/ te/naz/ ao/ re/dor/ do/ Di/nhei/ro, 
E o/ co/lheu,/ a/ cui/dar/ que/ co/lhia/ a/ Ven/tu/ra.

Tipos de rimas

  • Internas: entre o final de um verso e o meio de outro verso.
  • Externas: entre o final de um verso e o final de outro verso.
  • Cruzadas ou alternadas: ABAB ou CDCD (cada uma dessas letras representa um verso).
  • Emparelhadas: ABBA (emparelhamento de B) ou AABB (emparelhamento de A e B).
  • Interpoladas: ABBA (interpolação de A).
  • Agudas: entre palavras oxítonas ou monossílabas tônicas (“parti” e “sofri”, por exemplo).
  • Graves: entre palavras paroxítonas (“verdade” e “maldade”, por exemplo).
  • Esdrúxulas: entre palavras proparoxítonas (“ginástica” e “elástica”, por exemplo).
  • Ricas: entre palavras de classes gramaticais diferentes (substantivo e adjetivo, adjetivo e verbo etc.).
  • Pobres: entre palavras de classes gramaticais iguais (substantivo e substantivo, adjetivo e adjetivo etc.).
  • Perfeitas: entre palavras com mesma terminação (“verdade” e “maldade”, por exemplo).
  • Imperfeitas: entre palavras com terminação semelhante (“desejo” e “beijo”, por exemplo).

O que é o eu lírico?

O eu lírico é a voz literária, isto é, aquele ou aquela que expressa as palavras do poema. Esse recurso literário existe para afastar a autora ou o autor do que é dito no texto poético. Isso quer dizer que você não pode afirmar que foi o poeta ou a poetisa que disse, pensou ou sentiu isto ou aquilo expresso na poesia.

Dessa forma, o eu lírico pode ser masculino, mas criado por uma escritora, ou pode ser feminino, mas o poema ser de autoria de um homem. Isso permite que escritores e escritoras possam fazer poesia com coisas que eles ou elas não vivenciaram, não sentiram ou não pensaram.

Por exemplo, vejamos estes versos da letra de música Teresinha, de Chico Buarque:

Me encontrou tão desarmada,
Que tocou meu coração,
Mas não me negava nada
E, assustada, eu disse “não”.

Você já notou que a voz que fala é feminina, isto é, o eu lírico é feminino. No entanto, a obra foi escrita por um homem. Portanto, ao usarmos a expressão “eu lírico”, deixamos claro que a voz que fala não é a mesma do autor da obra.

Exemplo de texto do gênero lírico

A seguir, vamos ler um poema do livro Punhétricas:

Pós-mundo

Os hippies ouvem música caipira 
e ignoram a ignara alegria ofensiva
dos pretos pobres de cabelo crespo,
das pobres pretas de cabelo liso,
pela manhã de todas as manhãs.

Os hippies ouvem música caipira
de um programa popular de rádio,
e ignoram o velho sem um headphone,
em tão solitária desenvoltura
pela manhã de todas as manhãs.

Dizem que sou frio como ninguém,
que cago gelo e choraria pedra,
e que voyerizo o mundo inteiro,
e que sou um eunuco, pós-lascivo, 
que sabe usar a língua como quê.

Mas deixe que entrem os gafanhotos
nesta minha cápsula ex-vazia
e devorem minha vasta memória
e meu sorriso branco e meus olhos
resvalados assim entorpecidos.

SOUZA, Warley Matias de. Punhétricas. Joinville: Clube de Autores, 2017.

Exemplos de livros pertencentes ao gênero lírico

  • Poemas escolhidos de Gregório de Matos, seleção de José Miguel Wisnik.
  • Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga.
  • Primeiros cantos, de Gonçalves Dias.
  • Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo.
  • O navio negreiro, de Castro Alves.
  • Mármores, de Francisca Júlia.
  • Broquéis, de Cruz e Sousa.
  • Eu, de Augusto dos Anjos.
  • Há uma gota de sangue em cada poema, de Mário de Andrade.
  • Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles.
  • Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, de Cora Coralina.
  • Poema sujo, de Ferreira Gullar.
  • Galáxias, de Haroldo de Campos.
  • A teus pés, de Ana Cristina Cesar.
  • Distraídos venceremos, de Paulo Leminski.
  • Formas do nada, de Paulo Henriques Britto.

Então, agora que você já sabe quais são os gêneros literários, que tal ler uma narrativa ficcional e de teor político? É só comprar o livro Pérolas aos porcos.

Leia também este livro: Fogo nas trevas.

Referências

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.

GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006.

GOULART, Audemaro Taranto; SILVA, Oscar Vieira da. Introdução ao estudo da literatura. Belo Horizonte: Lê, 1994.

Este artigo foi escrito por: Warley Matias de Souza.