As imagens também podem ser metafóricas.
As imagens também podem ser metafóricas.

Neste artigo, você vai saber o que é metáfora e quais são os tipos de metáfora. Além disso, vai descobrir qual é a sua importância na literatura. Também vai poder ler alguns exemplos para entender ainda mais sobre esse assunto. E você que gosta dos conteúdos do site Literatura!, conheça também os livros de seu autor. É só clicar aqui.

O que é metáfora?

A metáfora é uma figura de linguagem e consiste em uma comparação. No entanto, é uma comparação indireta. Isso porque ela é feita sem uma conjunção comparativa:

Luiz é um amor.

Nessa frase, Luiz está sendo comparado ao amor. Mas a comparação não foi feita por meio de uma conjunção comparativa. Se fosse, ficaria assim:

Luiz é como um amor.

Nesse caso, a frase deixaria de ser metáfora e se tornaria apenas uma comparação, que é outra figura de linguagem.

Então, ficou claro? Se tem conjunção comparativa é uma comparação. Se não tem, é uma metáfora!

Leia também: Pílades e Orestes, conto de Machado de Assis.

Quais são os tipos de metáfora?

Basicamente, há dois tipos de metáfora:

  • Pura — mais complexa, pois um dos elementos da comparação não está explicitado:

O sonho chegou mais cedo hoje.

Assim, isoladamente, não é possível identificar a metáfora pura. Isso porque ela exige que o(a) leitor(a) ou interlocutor(a) tenha mais informações do contexto. Então, se eu te disser que o enunciador ou enunciadora dessa frase é uma pessoa que busca o príncipe encantado e acha que Alfredo, um rapaz bonito pra chuchu, é sua alma gêmea, o que você me diria?

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Precisa de mais alguma informação? Alfredo trabalha no mesmo lugar em que essa pessoa romântica. E todos os dias, ela espera ansiosamente por sua chegada. Isso mesmo. “Sonho”, nesse contexto, é uma metáfora pura, já que se refere a Alfredo. O rapaz é um sonho! No entanto, seu nome não foi explicitado na frase.

  • Impura — mais simples, já que os dois elementos da comparação estão explicitados:

Alfredo é um sonho!

A importância da metáfora na literatura

A literatura, como qualquer outra arte, trabalha com a plurissignificação. Portanto, a metáfora é uma das figuras de linguagem mais utilizadas em textos literários, devido ao seu poder de sugestão. É claro que seu uso é mais recorrente na poesia. Mas textos narrativos também utilizam bastante essa figura de linguagem.

O sentido figurado, ou a conotação, portanto, é um dos grandes diferenciadores na hora de determinarmos se um texto é literário ou não literário. Isso não quer dizer que um texto não literário e, por isso, mais denotativo, não possa utilizar metáforas. Claro que pode! Mas seu uso é mais econômico, já que a metáfora dá complexidade a um texto.

Os textos não literários possuem uma linguagem mais direta, pois buscam transmitir a informação com maior clareza. Já o texto literário é valorizado pela sua complexidade, pela linguagem poeticamente elaborada. Dessa forma, a metáfora é de suma importância na construção de uma obra literária e artística.

Exemplos de metáfora na literatura brasileira

  • Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus:

…O que o senhor Juscelino tem de aproveitavel é a voz. Parece um sabiá e a sua voz é agradavel aos ouvidos. E agora, o sabiá está residindo na gaiola de ouro que é o Catete. Cuidado sabiá, para não perder esta gaiola, porque os gatos quando estão com fome contempla as aves nas gaiolas. E os favelados são os gatos. Tem fome.

  • A hora da estrela, de Clarice Lispector:

Acho com alegria que ainda não chegou a hora de estrela de cinema de Macabéa morrer. Pelo menos ainda não consigo adivinhar se lhe acontece o homem louro e estrangeiro. Rezem por ela e que todos interrompam o que estão fazendo para soprar-lhe vida, pois Macabéa está por enquanto solta no acaso como a porta balançando ao vento no infinito. Eu poderia resolver pelo caminho mais fácil, matar a menina-infante, mas quero o pior: a vida. Os que me lerem, assim, levem um soco no estômago para ver se é bom. A vida é um soco no estômago.

  • Quincas Borba, de Machado de Assis:

Poucos dias depois, morreu… Não morreu súdito nem vencido. Antes de principiar a agonia, que foi curta, pôs a coroa na cabeça, — uma coroa que não era, ao menos, um chapéu velho ou uma bacia, onde os espectadores palpassem a ilusão. Não, senhor, ele pegou em nada, levantou nada e cingiu nada; só ele via a insígnia imperial, pesada de ouro, rútila de brilhantes e outras pedras preciosas. O esforço que fizera para erguer meio corpo não durou muito; o corpo caiu outra vez; o rosto conservou porventura uma expressão gloriosa.

— Guardem a minha coroa, murmurou. Ao vencedor…

A cara ficou séria, porque a morte é séria; dois minutos de agonia, um trejeito horrível, e estava assinada a abdicação.

  • Pequeno monstro, de Caio Fernando Abreu:

Escondido, vi quando ele entrou no quarto e encostou a persiana da janela, porque decerto ia tirar uma sesta. Todos tiravam sesta no mundo, menos eu, pequeno monstro. Fiquei acompanhando com a ponta do dedo um rastro prateado de lesma, naquele lugar frio atrás da casa, até passar um tempo. E, quando saí no sol outra vez, vi que o tempo tinha passado, porque a minha sombra já não estava tão achatada nem tão monstra. Então cheguei bem devagarinho perto da janela do quarto e, sem barulho nenhum, empurrei a persiana. De leve, como se fosse um vento. Ele estava nu, de costas para a janela. Um pouco mais abaixo daquele triângulo de pelos crespos e pretos na cintura, o calção tinha deixado uma marca branca, que parecia mais branca ainda, agora que o vermelho do sol começava a acender. […]

  • A uma amiga, de Maria Firmina dos Reis

Eu a vi — gentil mimosa,
Os lábios da cor da rosa
A voz um hino de amor!
Eu a vi, lânguida, e bela:
E ele a rever-se nela:
Ele colibri — ela flor.
[…]

Eu tive tantos ciúmes!…
Teria dos próprios numes,
Se lhe falassem de amor.
Porque, querê-la — só eu.
Mas ela! — a outra ela deu
Meigo riso encantador…
Ela esqueceu-se de mim
Por ele… por ele, enfim.

Você percebeu que a metáfora é bastante utilizada na literatura, não é mesmo? Então, que tal ler uma obra literária? É só comprar o livro Punhétricas e ver se ele tem muitas metáforas.

Leia também este livro: O gato angorá.

Referências

ABREU, Caio Fernando. Pequeno monstro. In: ABREU, Caio Fernando. Os dragões não conhecem o paraíso. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 1993.

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

MACHADO DE ASSIS. Quincas Borba. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.

REIS, Maria Firmina dos. A uma amiga. In: MACHADO, Amanda; MOURA, Marina (orgs.). Poesia gay brasileira: antologia. Belo Horizonte: Editora Machado/ São Paulo: Amarelo Grão Editorial, 2017.

SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 26. ed. São Paulo: Atual Editora, 2001.

Este artigo foi escrito por: Warley Matias de Souza.