O Simbolismo de Cruz e Sousa, o Dante Negro

O escritor Cruz e Sousa.
O escritor Cruz e Sousa.

Neste artigo, você vai conhecer o Simbolismo de Cruz e Sousa e saber um pouco sobre a vida desse escritor. Além disso, vai descobrir onde surgiu o estilo de época Simbolismo e quais são as suas principais características. Também vai conhecer os nomes de outros escritores simbolistas da literatura brasileira. E você que gosta dos conteúdos do site Literatura!, conheça também os livros de seu autor. É só clicar aqui.

Onde surgiu e quais são as características do Simbolismo?

O Simbolismo surgiu na Europa, quando o escritor francês Charles Baudelaire publicou seu famoso livro As flores do mal, no ano de 1857. O Simbolismo, no início chamado de “Decadentismo”, é um estilo de época marcado pela desconfiança acerca da realidade.

Para os simbolistas, a realidade não passa de uma ilusão. Por isso, eles se opõem a estéticas de cunho realista, como: Realismo, Parnasianismo e Naturalismo. Portanto, os textos simbolistas são subjetivos, sombrios, valorizam a espiritualidade e os elementos do inconsciente, e defendem a ideia de um mundo ideal ou essencial.

Também são características simbolistas:

  • musicalidade dos versos;
  • rigor formal;
  • sinestesia;
  • maiúscula alegorizante.

Assim, é por meio dos sentidos que o leitor alcançaria o plano das ideias. A leitora e o leitor também devem ficar atentas(os) às palavras escritas com inicial maiúscula, pois as maiúsculas alegorizantes estão presentes em palavras-chave, que também nos indicariam o caminho das essências.

Leia também: O Parnasianismo de Olavo Bilac, o Príncipe dos Poetas.

Quais são as características do Simbolismo de Cruz e Sousa?

Você sabia que Cruz e Sousa é o mais famoso poeta do Simbolismo brasileiro? Ele é um dos poucos escritores negros do século XIX a receber o devido reconhecimento da crítica. Claro que o reconhecimento pleno só aconteceu após a sua morte, ocorrida em 19 de março de 1898, quando ele foi vitimado pela tuberculose.

João da Cruz e Sousa nasceu na cidade de Florianópolis, no dia 24 de novembro de 1861. O pai era um homem escravizado; mas a mãe, alforriada. Mais tarde, o poeta trabalhou em uma companhia de teatro e chegou a ser nomeado promotor público. Mas não pôde assumir o cargo por ser negro.

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No Rio de Janeiro, trabalhou na Central do Brasil e, em 1893, publicou seus dois primeiros livros: Broquéis e Missal. Assim, além das características típicas do Simbolismo, já apontadas no tópico anterior, a poesia de Cruz e Sousa também apresenta certas particularidades:

  • caráter filosófico;
  • obsessão pela morte;
  • frequência da cor branca.

É do livro Broquéis o soneto “Post mortem”, escrito em versos decassílabos, com esquema de rimas ABAB, ABAB, CCD, EED:

Quando do amor das Formas inefáveis 
No teu sangue apagar-se a imensa chama, 
Quando os brilhos estranhos e variáveis 
Esmorecerem nos troféus da Fama. 

Quando as níveas Estrelas invioláveis, 
Doce velário que um luar derrama, 
Nas clareiras azuis ilimitáveis 
Clamarem tudo o que o teu Verso clama. 

Já terás para os báratros descido, 
Nos cilícios da Morte revestido, 
Pés e faces e mãos e olhos gelados... 

Mas os teus Sonhos e Visões e Poemas 
Pelo alto ficarão de eras supremas 
Nos relevos do Sol eternizados!

Nesse poema, a voz poética diz, a certo interlocutor, que ele já vai estar morto quando a imensa chama das Formas inefáveis do amor apagar-se no sangue dele, quando o brilho dos “troféus da Fama” esmorecerem, ou seja, diminuírem, e quando as Estrelas clamarem “tudo o que o teu Verso Clama”.

Mas os “Sonhos e Visões e Poemas” dele vão ficar eternizados em “eras supremas”. Desse modo, são finitos o interlocutor, o amor e a fama. Mas a poesia, que carrega os sonhos e visões, é eterna. Por fim, nesse poema simbolista, é possível apontar estas características de estilo:

  • Maiúscula alegorizante: “Formas”, “Fama”, “Estrelas”, “Verso”, “Morte”, “Sonhos”, “Visões”, “Poemas” e “Sol”.
  • Sinestesia: “chama”, “brilhos”, “níveas”, “doce”, “azuis” e “gelados”.
  • Musicalidade: provocada pela metrificação e rimas.

Assim, as palavras escritas com letra maiúscula e as sensações despertadas pelos termos sinestésicos são capazes de levar a leitora e o leitor para o plano das essências, uma realidade não atingida pela razão. É possível também apontar a presença da cor branca (“nívea”) e a temática da morte, tão caras ao poeta.

Outros escritores simbolistas da literatura brasileira

• Alphonsus de Guimaraens.
• Maranhão Sobrinho.
• Lívio Barreto.
• Eduardo Guimaraens.
• Marcelo Gama.

Principais autores do Simbolismo europeu

  • Paul Verlaine — francês.
  • Arthur Rimbaud — francês.
  • Camilo Pessanha — português.
  • Charles Baudelaire — francês.

Então, que tal ler uma obra poética contemporânea? Desta vez, vou te indicar o livro Punhétricas. Será que ele possui algum rigor formal?

Leia também este livro: Ele & eles.

Referências

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.

CRUZ E SOUSA. Broquéis. Acesso em: 07 nov. 2022.

ESPÍNDOLA, Elizabete Maria. Cruz e Sousa: de Desterro para o panteão da poesia simbolista. Acesso em: 09 nov. 2022.

LITERAFRO. Cruz e Sousa: dados biográficos. Acesso em: 09 nov. 2022.

MINISTÉRIO DA CULTURA/ FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Catálogo da Exposição Cruz e Sousa, 100 anos de morte (1898-1998): Cruz e Sousa. Acesso em: 09 nov. 2022.

RIGHI, Volnei José. O poeta emparedado: tragédia social em Cruz e Sousa. 2006. 172 f. Dissertação (Mestrado em Literatura Brasileira) – Departamento de Teoria Literária e Literaturas, Universidade de Brasília, Brasília, 2006.

Este artigo foi escrito por: Warley Matias de Souza.