Neste artigo, você vai conhecer a literatura da Idade Média. Além disso, vai descobrir o que é o estilo de época Trovadorismo e quais são as suas principais características. E você que gosta dos conteúdos do site Literatura!, conheça também os livros de seu autor. É só clicar aqui.
Quais são as características do Trovadorismo?
O Trovadorismo se refere à poesia medieval, a qual era feita para ser cantada. Quem compunha e cantava as chamadas “cantigas trovadorescas” eram os trovadores. Existem quatro tipos de cantigas. Na Idade Média, predomina a visão teocêntrica.
TIPO DE CANTIGAS | CARACTERÍSTICAS |
Cantigas de amor | O eu lírico é masculino, ele fala de sofrimento amoroso, o trovador é o sofredor ou coitado, a dama cortejada é uma mulher idealizada e inatingível. |
Cantigas de amigo | O eu lírico é feminino, ele fala da saudade que a mulher sente do “amigo” (amante ou esposo), essa mulher se dirige a uma amiga, irmã, mãe etc., em um meio rural. |
Cantigas de escárnio | Crítica a alguém ou a algo, mas de forma sutil. |
Cantigas de maldizer | Crítica a alguém ou a algo, de forma explícita, ofensiva, às vezes com uso de linguagem chula. |
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Exemplos de cantigas trovadorescas galego-portuguesas
Cantiga de amor de Vasco Praga de Sandim, em que o trovador se mostra grato a Deus por poder ver a mulher amada:
A Deus grad’hoje, mia senhor,
porque vos eu posso veer!
Ca nunca eu vira prazer
no mundo já per outra rem.
Quand’haverei eu nunca bem,
se mi o Deus i de vós nom der?
Sei-m’eu est’, e sei, mia senhor
fremosa, ca deste poder
que mi Deus faz atal haver
(que vos vejo) fará-xe-m’en
Perda do corpo e do sem,
u vos eu veer nom poder.
Mais, mentr’eu vos veer poder
e poder convosco falar,
por Deus a mim nom querer dar
de vós mais bem, já mi o eu hei
em atanto, e nom rogarei
Deus por mia morte, mia senhor
E se me Deus vosso bem der,
e me non’ar quiser guisar
vosco que me possa durar,
nom mi haverá mester; ca sei
ca log’a rogar haverei
Deus por mia morte, mia senhor.
Cantiga de amigo de João Airas de Santiago, em que o trovador encarna uma mulher que diz que seu “amigo” foi seduzido por outra. Porém, ela pretende ter o “amigo” de volta:
A que mi a mi meu amigo filhou
mui sem meu grad’, e nom me tev’em rem
que me servi’e mi queria bem,
e nom mi o disse nem mi o preguntou,
mal lhi será, quando lho eu filhar
mui sem seu grad’, e non’a
preguntar.
E, se m’ela mui gram torto fez i,
Deus me leixe dereito dela haver,
ca o levou de mim sem meu prazer;
e ora tem que o levará assi,
mal lhi será, quando lh’o eu filhar
mui sem seu grad’, e non’a
preguntar.
E bem sei eu dela que vos dirá
que nom fiz eu por el quant’ela fez;
mais quiçai mi o fezera outra vez,
e, pero tem bem que o haverá,
mal lhi será, quando lh’o eu filhar
mui sem seu grad’, e non’a
preguntar.
Entom veeredes molher andar
pós mim chorand’, e nom
lho querrei dar.
Cantiga de escárnio de João Garcia de Guilhade, em que o trovador elogia certa senhora, enquanto ataca seu marido, chamado de D. Fulano; portanto, sem identificar o alvo da crítica:
A Dom Foam quer’eu gram mal
e quer’a sa molher gram bem;
gram sazom há que m’est’avém
e nunca i já farei al;
ca, des quand’eu sa molher vi,
se púdi, sempre a servi
e sempr’a ele busquei mal.
Quero-me já maenfestar,
e pesará muit’a alguém,
mais, sequer que moira por en,
dizer quer’eu do mao mal
e bem da que mui bõa for,
qual nom há no mundo melhor,
quero-o já maenfestar.
De parecer e de falar
e de bõas manhas haver,
ela, nõn’a pode vencer
dona no mund’, a meu cuidar;
ca ela fez Nostro Senhor
e el fez o Demo maior,
e o Demo o faz falar.
E pois ambos ataes som,
como eu tenho no coraçom,
os julg’Aquel que pod’e val.
Cantiga de maldizer de Afonso Anes do Cotom, em que o trovador aponta imperfeições físicas de João Fernandes e Pero da Ponte:
A mim dam preç’, e nom é desguisado,
dos maltalhados, e nom erram i;
Joam Fernandes, o mour’, outrossi,
nos maltalhados o vejo contado;
e pero maltalhados semos nós,
s’homem visse Pero da Ponte em cós,
semelhar-lh’ia moi peor talhado.
Quais são as características da poesia palaciana?
Com o fim do Trovadorismo, surgiu a poesia palaciana, em meados do século XV. Nesse tipo de poesia, os poetas não costumam utilizar refrão. Veja que agora não estamos mais falando de trovadores, mas de poetas. Afinal, a poesia palaciana é feita para ser declamada e não cantada.
O poeta se preocupa com a metrificação e as rimas, responsáveis pela sonoridade do poema. Na poesia palaciana, a temática mais comum é o amor. Porém, um amor menos idealizado e, portanto, mais sexualizado. Contudo, outros assuntos também foram tratados por esses poetas, como temas religiosos, históricos ou mesmo de cunho satírico.
Veja, como exemplo, o poema Cantiga sua partindo-se, de João Roiz de Castelo Branco:
Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
tão fora d’esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Quais são as características das novelas de cavalaria?
A prosa medieval está composta pelas novelas de cavalaria ou romances de cavalaria. Nessas obras, são narradas as aventuras dos cavaleiros andantes ou mesmo de guerreiros que lutam contra os mouros nas Cruzadas. Portanto, apresentam heróis medievais envolvidos em aventuras e conquistas amorosas relacionadas a damas idealizadas.
As novelas do ciclo carolíngio relatam as aventuras de Carlos Magno e os doze pares de França. As do ciclo bretão narram as aventuras do rei Arthur e os cavaleiros da távola redonda. Por fim, as novelas do ciclo clássico contam histórias da Antiguidade clássica, como as aventuras de Alexandre, o Grande.
O teatro medieval
O teatro na Idade Média consistia em representações em praças públicas ou mesmo em igrejas. Sobressaíam as peças teatrais de temática religiosa. No entanto, também havia aquelas com conteúdo político, ou seja, sátiras que condenavam vícios ou costumes. Por fim, houve também o teatro de moralidades, que apresentava caráter pedagógico e moralizante. O teatro medieval, portanto, estava distante da grandiosidade do teatro grego da Antiguidade.
O que é o Humanismo?
O Humanismo é um movimento estético surgido no século XIV, na Itália. Ele marca o fim da Idade Média. As obras humanistas, apesar de ainda estarem associadas ao teocentrismo medieval, valorizam os elementos greco-latinos, como a razão, a beleza e o prazer. As obras humanistas apresentam equilíbrio e idealização.
As obras mais importantes desse movimento são A divina comédia, de Dante Alighieri, e Triunfos, de Francesco Petrarca. Na literatura portuguesa, são humanistas as obras de Gil Vicente, como seu famoso texto dramático Auto da barca do inferno.
Então, que tal ler uma obra poética contemporânea? Desta vez, vou te indicar o livro Punhétricas. Espero que tenha uma boa leitura!
Leia também este livro: Antes do ponto final.
Referências
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.
BRANCO, João Roiz de Castelo. Cantiga sua partindo-se. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 30. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
GOULART, Audemaro Taranto; SILVA, Oscar Vieira da. Introdução ao estudo da literatura. Belo Horizonte: Lê, 1994.
PROJETO LITTERA. Cantigas medievais galego-portuguesas: Afonso Anes do Cotom. Acesso em: 31 maio 2024.
PROJETO LITTERA. Cantigas medievais galego-portuguesas: João Airas de Santiago. Acesso em: 25 maio 2024.
PROJETO LITTERA. Cantigas medievais galego-portuguesas: João Garcia de Guilhade. Acesso em: 30 maio 2024.
PROJETO LITTERA. Cantigas medievais galego-portuguesas: Vasco Praga de Sandim. Acesso em: 18 maio 2024.
Este artigo foi escrito por: Warley Matias de Souza.