Capa do livro Um homem gasto, de L. L., obra do Projeto CDP.
Capa do livro Um homem gasto, de L. L., obra do Projeto CDP.

Neste artigo, você vai saber quem é L. L., pseudônimo do escritor Ferreira Leal. E conhecer a história de seu romance naturalista Um homem gasto. E você que gosta dos conteúdos do site Literatura!, conheça também os livros de seu autor. É só clicar aqui.

Quem é L. L.?

Dados da biografia do autor são escassos. Sabe-se que seu nome era Lourenço Ferreira da Silva Leal. Ele nasceu em 30 de agosto de 1850, no Rio de Janeiro. Era médico e faleceu em 15 de abril de 1914. Além de O homem gasto, publicado com pseudônimo, escreveu também o romance O suplício de um marido, de 1888.

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Qual é a história do romance Um homem gasto, de L. L.?

Certo autor resolve visitar um tal dr. A***. Recebe dele um manuscrito e publica-o. A partir de então, estamos diante de um romance epistolar, em que a personagem Luíza conta, para a sua amiga Cecília, como está sendo a vida de recém-casada.

Luíza, de vinte anos, está casada com Alberto, de quarenta. Nas cartas para a amiga, ela relata sua extrema felicidade de mulher casada. Até que começa a sentir certa melancolia e impaciência. Quando os sintomas se acentuam, o marido traz o dr. E*** para examiná-la. Ela, então, é diagnosticada com histeria.

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E o marido também passa a padecer dos nervos. Seu estado de saúde só se agrava, ele tem crises nervosas e problemas estomacais. Assim, paira no ar o mistério em torno da verdadeira causa dos males que o afligem.

No final, Alberto, em uma longa carta, busca explicar as causas de seus problemas. A principal delas é o meio do internato onde foi educado, crítica típica do Naturalismo. Segundo Alberto, nesse ambiente, a criança é corrompida pelos colegas e até pelos professores. E, a partir daí, ele mostra sua repugnância diante da homossexualidade.

Como em típicas obras naturalistas, esta também é preconceituosa e homofóbica. Em tom de autocensura, o personagem confessa ter tido relações homoeróticas. E mais, afirma ter sido abusado, antes dos quinze anos de idade, pelo seu professor de Português.

Mais tarde, viajou à Europa. E, com vinte e três anos, em Paris, teve a notícia da morte do pai. Dele recebeu uma fortuna como herança. Entregou-se a orgias, trocou os dias pelas noites, frequentou prostíbulos. Ele se tornou amigo do conde Bobinaud e, inspirado por ele, experimentou os excessos sexuais, ao que parece, apenas com mulheres.

Depois de tantos excessos, a “extenuação” o obrigou a procurar um médico. Ele, que, “nas eras de vigor inquebrantável, fora procurado, requestado, endeusado pelas mais cobiçadas mulheres da vida galante”, via-se agora, “proscrito do amor”, “ridicularizado por motejos à boca pequena”. Menciona uma noite, “em que recente insucesso me valera chasqueadores apupos de mulher que eu desejara ardentemente”.

Então percebemos que, sutilmente, Alberto está falando de sua impotência sexual. Diante dessa realidade, ele se arrepende de ter vivido uma vida de “excessos”. O tom do personagem é completamente moralista, em defesa da família tradicional e da heterossexualidade. Ele, que era ateu, passa a acreditar em Deus e faz todo um discurso antimaterialista, o que mostra uma contradição no Naturalismo brasileiro.

O homoerotismo na obra Um homem gasto, de L. L.

O romance naturalista Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, continua sendo o primeiro livro brasileiro que tem a homossexualidade como temática principal. O livro de Caminha foi publicado, pela primeira vez, em 1895. Já Um homem gasto, em 1885. Como já foi mencionado aqui, a obra de L. L. traz elementos homoeróticos, mas eles não são o tema central do livro.

Então, que tal ler um livro contemporâneo com temática homoerótica? É só ler o minirromance Ele & eles.

Leia também este livro: De passagem.

Referência

L. L. Um homem gasto. [S. l.]: Projeto CDP, 2023.

Este artigo foi escrito por: Warley Matias de Souza.